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Cidade piauiense só elegeu homem para prefeito, vice e vereador desde sua fundação

A única mulher que ocupou uma vaga na Câmara de Pau D’Arco teve só um voto

Pau D’ Arco é o nome de um gênero de árvore Tabebuia, também conhecida por Ipê Roxo. Ela é bem típica na região amazônica e no cerrado, não à toa três cidades que estão situadas nesses biomas recebem o seu nome. Uma fica no Tocantins, outra no Pará e a terceira no Piauí. E justamente a piauiense que manteve uma tradição nesta última eleição: nunca ter elegido uma única mulher para qualquer cargo político no município.

É isso mesmo, com nome de árvore que remete a mulher, o município de Pau D’Arco do Piauí só tem homens no poder há mais de 20 anos. Na verdade, desde 2000 quando ocorreu a primeira eleição na cidade, que foi emancipado três anos antes. De lá para cá, nunca teve uma mulher eleita nem a prefeita, nem a vive, muito menos para uma das nove cadeiras que compõem o Legislativo Municipal.

Pau D’ Arco
Pau D’ Arco – Foto: Reprodução

A única mulher que ocupou uma vaga na Câmara de Pau D’Arco teve só um voto e só alcançou o cargo porque o vereador titular foi cassado e o suplente morreu em um acidente. O mesmo ocorreu com Joana Bacelar, que se tornou vice-prefeita em 2011, após a cassação da chapa de Fábio Soares Cesário, que foi declarado inelegível por ser parente sócioafetivo de um ex-prefeito.

No Brasil, uma das causas de inelegibilidade abrange cônjuges e parentes consanguíneos ou afins até o segundo grau, incluindo adoção. Neste ano, 16 mulheres se candidataram, um total de 32% das candidaturas, mas nenhuma foi eleita. Já paras o cargo majoritário todos eram do sexo masculino, sendo dois candidatos a prefeito e dois candidatos a vice-prefeito. A cidade é uma das 20 do Piauí que elegeram apenas homens para o legislativo municipal.

Assim como Pau D’Arco, outras nove cidades no país não elegeram mulheres para a administração pública nos últimos 25 anos, conforme a Justiça Eleitoral. Como no caso do município do Piauí, a pesquisa não leva em conta mulheres que tomaram posse por terem se tornado suplentes ou após a cassação de chapas anteriores.  Enquanto as mulheres são 52,4% do eleitorado, neste ano, elas representavam 15,4% das prefeitas eleitas e 18,2% das vereadoras.

Para Débora Thomé, pesquisadora da FGV e uma das autoras do livro “Candidatas: Os Primeiros Passos das Mulheres na Política no Brasil”, em entrevista ao  G1, casos extremos como esses funcionam como uma alegoria de um problema maior: a baixa presença de mulheres na política no Brasil. “Os partidos não dão apoio suficiente, não repassam o dinheiro que deveriam e não investem em candidaturas ou lideranças femininas”, disse.

A pesquisadora ressalta que a experiência prévia em cargos públicos é um dos principais fatores que impulsionam a eleição. Assim, a baixa eleição de mulheres perpetua um ciclo vicioso de pouca representatividade. “O maior preditor para alguém se eleger é já ter sido eleito antes. Sendo a maioria dos vereadores eleitos homens, isso aumenta ainda mais essa disparidade de gênero.”

Há 26 anos, a legislação brasileira estabelece que cada partido ou coligação assegure um mínimo de 30% de candidaturas de cada gênero nas eleições para a Câmara dos Deputados, a Câmara Legislativa do Distrito Federal, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Em agosto deste ano, foi aprovada a chamada PEC da Anistia, que isenta os partidos políticos de multas por descumprimento dos repasses mínimos para candidaturas negras e cria um perdão amplo para outras irregularidades em prestações de contas eleitorais.

Embora não trate diretamente da questão das mulheres, o entendimento de críticos é que isso poderia também permitir a anistia para casos de não cumprimento do repasse para a cota de gênero. Pau D”Arco do Piauí fica a 69 km ao Norte de Teresina e tem uma população de pouco mais de 4 mil habitantes. O IDH é de 0,514, considerado baixo, e tem renda per capita menor que R$ 3,3 mil.

Fonte: Conecta Piauí

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