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Documentário produzido por historiadores debate a existência de cangaceiros no interior do Piauí

Documentário produzido por historiadores debate a existência de cangaceiros no interior do Piauí — Foto: Reprodução

O debate sobre o movimento do cangaço no Nordeste é tema de muitas pesquisas para historiadores, entre eles o pesquisador Thiago Inácio e o historiador Danilo José Reis. Juntos, eles produziram o documentário Os Pótes que retrata a possível existência de cangaceiros no Piauí e foi lançado nessa quarta-feira (10).

Essa produção audiovisual, de acordo com Thiago, é fruto de pesquisas orais e em fontes hemerográficas, através de jornais da época, empreendidas por dois grupos de pesquisa local: Lagoa Alegre Memórias, do município de Lagoa Alegre, a 87 km de Teresina, e Piquete Explorador do Estanhado, de União, distante 66 km da capital.

Thiago explica que esse essas pesquisas iniciais são muito importantes para a história piauiense porque, segundo a História, o movimento do cangaço morreu com o seu “Rei” Lampião em 1938, mas em 1940 há registros dessa prática no nosso estado.

“O fato do fenômeno do cangaço ter padecido em 1938 é exatamente o que torna importante esse achado, que é o advento do bando dos Pótes, nos anos 1940. Teria existido um fenômeno similar ao cangaço lampiônico no interior do Piauí? É essa questão que essa obra pretende responder”, explica o pesquisador.

O que caracteriza Cangaço, de acordo com o historiador Danilo José dos Reis, é o fenômeno do banditismo de crimes e violências praticados por essas pessoas do interior com práticas similares aos cangaceiros.

Danilo conta que as pesquisas com o Thiago se uniram porque esse bando atuava na região onde hoje são as cidades de Lagoa Alegre, União e Barras.

“Descobrimos a existência desse grupo de bandoleiros pelo qual a imprensa, diga-se de passagem, os chamava de cangaceiros. Estudamos a questão de: até que ponto essa denominação de cangaceiros se encaixavam com eles, que eram um grupo de homens armados, ‘arruaceiros’ como o povo costuma falar, e reuniam membros de uma mesma casta familiar”, contou.

Os pesquisadores disseram ao g1 que durante a produção do documentário entraram em contato com Ramon Vieira que, coincidentemente, também fazia uma pesquisa sobre a história de seu pai, Francisco Vieira, de 81 anos, que perpassa pelo movimento do cangaço no Piauí.

Ramon Vieira é professor de português e seu pai quando tinha 13 anos chegou a conviver durante um ano com o bando que a imprensa denominava de cangaceiros na zona rural de União. O pai de Ramon serviu como fonte ocular para o documentário porque se lembra com riqueza de detalhes dos acontecimentos da época em que viveu.

“Eu caí nessa história de paraquedas, porque, na verdade, eu estou escrevendo sobre a história do meu pai, hoje com 81 anos. Mas os meninos foram além, o Thiago e o Danilo, porque vasculharam a documentação da época, como jornais, e viram que esses cangaceiros tinham um envolvimento com a política. Já o papai, com a visão de menino criança dele da época, não lembra disso, só lembra de brigas por terras”, explicou.

Uma das características marcantes do movimento do cangaço no Nordeste é a disputa por terras, o coronelismo e revolta à situação de miséria na região. Confira a sinopse da produção audiovisual no fim da reportagem.

“É um documentário que trata de tirar dos porões da história local a possível existência de cangaceiros no interior piauiense. Um fato totalmente novo, fruto de muitas pesquisas historiográficas. Muito interessante pensar que esse Fenômeno existiu num povoado tão próximo de nós”, finaliza Thiago Inácio.

Sinopse:

Não recomendado para menores de 18 anos

O bando capitaneado por Lampião padeceu com a morte de seu expoente, ainda em 1938. Mas, segundo a imprensa piauiense pós-Estado Novo, persistiu em Vinagreira, povoado de União, um grupo de bandoleiros a quem as gazetas chamaram “cangaceiros”. Em União, ainda vigorava a “lei do cão”. Era o bando de Sesóstris Póte, as “feras da Vinagreira”.

Neste filme documentário, uma série de entrevistas com testemunhas oculares dos fatos e estudiosos do caso, propõe-se debater a alcunha herdada pelo grupo, ao passo em que se narra algumas das passagens mais emblemáticas em que se envolveram.

Fonte: G1 PI

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