Faleceu na madrugada desta quarta-feira (04/06), aos 92 anos, a arqueóloga Niéde Guidon, uma das mais importantes pesquisadoras da história do Brasil. Reconhecida internacionalmente, ela dedicou mais de meio século ao estudo da região do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Sul do Piauí, onde liderou escavações que desafiaram paradigmas científicos sobre a chegada do homem ao continente americano.
Nascida em Jaú, interior de São Paulo, em 12 de março de 1933, Niéde Guidon formou-se em História Natural pela Universidade de São Paulo (USP) e construiu uma sólida carreira acadêmica entre o Brasil e a França. Foi em 1973, no entanto, que iniciou o trabalho que marcaria sua trajetória: as escavações na Serra da Capivara, que resultaram na descoberta de mais de 800 sítios arqueológicos, incluindo pinturas rupestres e ferramentas de pedra com datações controversas — algumas com mais de 50 mil anos.
Essas descobertas colocaram o Brasil no centro de uma intensa discussão científica, ao questionar a teoria dominante de que os primeiros humanos chegaram às Américas por volta de 13 mil anos atrás, via Estreito de Bering.
Além da contribuição científica, Niéde Guidon teve um papel fundamental no desenvolvimento social da região. Criou, em 1986, a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), que atua na conservação do parque e promove ações de educação, saúde e geração de renda para a população local. Sua atuação foi decisiva para que o Parque Nacional da Serra da Capivara fosse reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1991.
Ao longo de sua carreira, foi agraciada com diversos prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio Almirante Álvaro Alberto de Ciência e Tecnologia, em 2024. Em 2023, aos 90 anos, ganhou uma biografia que celebrou sua vida e legado.
Niéde Guidon deixa uma marca indelével na ciência brasileira, com um legado que vai muito além da arqueologia: ela provou que ciência, cultura e compromisso social podem andar juntos — mesmo nos lugares mais esquecidos do país.
Fonte: 180graus