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Piauí tem 20 mil famílias produzindo mel

Piauí tem 20 mil famílias produzindo mel

O Piauí possui um grande potencial para a produção de mel, fato comprovado por estatísticas do IBGE, que mostram que o Estado ocupa o primeiro lugar do pódio, no volume de produção do Nordeste. O mel piauiense corresponde a 35% de toda a produção da região, com 4,5 mil toneladas de mel em 2017.

A produção piauiense é grande e capilarizada. De acordo com estatísticas da Federação de Apicultura, são 20 mil famílias produzindo mel no Piauí. A florada da caatinga aparece como um campo aberto para investimento no setor, ainda que a produção aconteça, sobretudo, durante os meses de chuva.

É o que explica Laurielson Chaves Alencar, professor do Colégio Técnico da Universidade Federal do Piauí (Ufpi) do campus de Floriano. Laurielson é engenheiro agrônomo especialista em apicultura e tem doutorado em produção vegetal na área de polinização com abelhas. “O mel fica oscilando na pauta de exportação. Ao contrário da soja, que concentra riquezas nas mãos de poucos, o mel tem um lado social muito forte, pois distribui renda para centenas de famílias de produtores rurais. Segundo a Federação de Apicultura, temos 20 mil famílias produzindo mel no Piauí. A apicultura está em praticamente todas as regiões do Estado”, revela.

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O mel é uma atividade muito forte no semiárido, que tem vegetação de caatinga. “A região de Picos, São Raimundo Nonato, Bonfim, Anísio de Abreu, Simplício Mendes são ricas nesse aspecto, com mais peso na produção. No período de chuvas, período de produção de mel do Piauí, a caatinga flora e as abelhas se dão muito bem. São floradas simultâneas e sucessivas, de janeiro até abril e maio, ao contrário do Pará e Maranhão, que chove tanto que a água lava o pólen das flores por conta de chuvas torrenciais. As abelhas não saem nas chuvas seguidas. Aqui no Piauí é diferente, chove e tem dia de sol, é alternado. O produtor aproveita a chuva porque não temos chuvas o ano inteiro”, acrescenta Laurielson.

O Piauí pratica dois métodos de produção de mel. “A maioria dos apicultores do Piauí é fixo. A produção é apenas no período da chuva. Mas alguns são migratórios, e levam os enxames para o Maranhão. Esse segundo caso é uma pequena parcela, porque é preciso alugar o espaço, levar os enxames, então é todo um processo. Mas assim é possível produzir mel o ano todo. Antes os piauienses migravam para o Ceará, mas agora, desde 2011, o Maranhão ganhou esse público”, conta o professor do Colégio Agrícola da Ufpi.

Uma seca, que ocorreu entre 2012 e 2013, desestabilizou a produção de mel no Piauí, que agora está se recuperando com as boas chuvas. “Essa foi a pior época para apicultores. Nesta época o governo disponibilizou caminhões para fazer a migração para outro estado, mas mesmo assim foi muito ruim. Em 2011, pela primeira vez na história, a região Nordeste produziu mais mel que o Sul. A região Sudeste foi ultrapassada em 2002. A produção foi recuperada em 2017, mas desta vez voltamos a ficar atrás da região Sul”, contabiliza o especialista em apicultura.

Produção em 2019 deve ultrapassar as 5 mil toneladas

A expectativa é que o Piauí continue com bons números de produção em 2019, seguindo a tendência do Censo de 2017. Em verdade, os números, que já são positivos, devem ser ultrapassados, pois as chuvas no Piauí foram muito boas este ano para a produção de mel.

“2019 foi um ano bom. Teve muita chuva, embora em janeiro não tenha chovido. De fevereiro em diante foi muito bom. Isso vai refletir nos próximos dados do IBGE, que vão mostrar que a maioria    dos municípios teve uma boa produção. Com certeza, vamos passar das 5 mil toneladas. Ainda temos regiões que estão tirando mel na região Norte do Estado, como Batalha, que tem mel até agosto”, explica Laurielson Chaves Alencar.

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No entanto, é possível melhorar ainda mais os números e elevar a participação do Piauí na pauta de exportação do mel. “O apicultor precisa praticar a tecnologia que já existe. A Universidade e a Embrapa orientam o manejo adequado. Tem coisas básicas, como a troca de cera e alimentar os enxames no período de entressafra, para que na florada ele chegue forte. Além disso, há a troca de rainhas. Esse manejo aumenta a produção. Essa prática nos daria uma condição maior de produção. O maior comprador hoje do mel do Piauí são os Estados Unidos. Cerca de 80% vai para lá. Hoje existem quatro produtores que exportam, em que 90% da produção deles é para fora, só 10% fica aqui”, aponta o professor.

A produção de mel é uma boa alternativa para produtores rurais. “A apicultura, mesmo em período ruim de chuva, ela ainda produz mel. Em 2016, na região de Floriano, o agricultor perdeu de 90% a 100% da produção de milho e feijão. Mas mesmo assim ele tirou mel. A irregularidade de chuvas atrapalha muito a agricultura, mas apicultura continua sendo uma alternativa”, atesta Laurielson.

Manejo correto triplicaria produção no Piauí

Para Fábia de Mello Pereira, engenheira agrônoma da Embrapa Meio Norte, com doutorado em Zootecnia na área de Alimentação de abelhas, a produção de mel no Piauí poderia chegar a até 15 mil toneladas se houvesse uma profissionalização massiva do manejo dos produtores do Estado.

“Nós produzimos muito mel, por dois fatores: temos muitos apicultores e condições ambientais, tanto de flora como de clima no período da chuva, que favorece muito a produção do mel. No entanto, no geral, a maior parte dos apicultores não se profissionalizou. Se eles realmente fizessem isso, nós conseguiríamos triplicar a produção de mel sem dificuldade”, explica.

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O manejo correto engloba três fatores determinantes. “Falta eles darem o correto manejo com a questão da cera. As abelhas têm os favos de cera, onde depositam as posturas, mel e pólen. Então,    quanto mais velho, menor ele fica, e diminui a produção. O tamanho dos alvéolos diminui o volume de mel. O correto seria trocar a cera a cada dois anos, assim a capacidade se manteria”, orienta Fábia Pereira.

A troca da abelha rainha também potencializa a produção. “No Piauí não se trabalha com a troca de abelhas rainhas. As rainhas mais jovens têm uma capacidade de postura de ovos muito maior. Assim é possível ter mais operárias trabalhando. As rainhas novas podem colocar até 3 mil ovos por dia em condições ambientais favoráveis. Com a velhice, ela diminui a quantidade de ovos. Elas vivem até três anos, mas o ideal é que todo ano elas sejam substituídas. Elimina-se a rainha velha e em 24 horas é introduzida uma rainha nova, pois há tempo das operárias sentirem a falta da rainha e a necessidade de terem outra. Elas sentem o cheiro. Se colocar imediatamente a nova, elas podem se revoltar. A rainha nova, no vigor da juventude, fará uma maior postura de ovos. Mais operárias trabalhando, mais mel. Essa troca deve ocorrer antes da safra”, recomenda a doutora em Zootecnia.

No período da entressafra, na seca, quando não há floração, é preciso alimentar as abelhas. “É comum as pessoas perderem de 60% a 70% dos enxames no B-R-O-bró. Aqui temos extremos. Na chuva temos condições muito favoráveis e no calor condições desfavoráveis. Então, a comida precisa ser introduzida, além de água, que é fundamental. Assim é possível reduzir a perda de enxames, pois por si só as abelhas vão embora em busca de condições melhores. A perda de até 30% na estiagem é normal, visto que não trabalhamos com seleção genética. Mas somente esses três fatores já triplicaria a produção. Na Embrapa nós conseguimos, em condições ideais, produzir até 30 kg, em média. E a média do Estado é de 12 kg a 15 kg. Quando pegamos uma colmeia que não fazemos pesquisa, ela produz até 50 kg”, contabiliza Fábia.

Maior parte do mel do Piauí é exportado porque o consumo do Estado, assim como do resto do Brasil, é irrisório comparado a países europeus. “O nosso consumo de mel é muito baixo. Do Brasil, de forma geral. Não consumimos nem um quilo de mel por ano. Tem país que cada pessoa consome 17 quilos de mel por ano. Então, temos um caminho de mostrar que o mel não é remédio, é alimento. As pessoas tomam mel quando estão doentes”, finaliza a pesquisadora da Embrapa.

Fonte: Meio Norte

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