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Viciei no “Jogo do Tigrinho”, e agora? Entenda o quadro e como tratar

Quem usa frequentemente o Instagram ou outras redes sociais pode já ter sido abordado por perfis falsos oferecendo dinheiro “fácil” para divulgar o chamado “Jogo do Tigrinho”. Em outros casos, anúncios online com propostas atraentes também aparecem nas plataformas. As informações são do Metrópoles.

O “Jogo do Tigrinho” é um cassino online do tipo caça-níquel, onde os usuários apostam dinheiro na esperança de ganhar valores ainda maiores. O objetivo é combinar três imagens idênticas nas linhas exibidas na tela, semelhante às máquinas caça-níqueis tradicionais.

Apesar da ampla divulgação, muitas vezes promovida por influenciadores, o jogo é ilegal no Brasil de acordo com a Lei nº 3.688/1941. No entanto, a prática continua a se espalhar, resultando em problemas financeiros e possíveis vícios.

De acordo com o psicólogo Rodrigo Bravim, o vício em jogos de azar é conhecido como ludomania, um distúrbio psicológico que faz com que a pessoa aposte compulsivamente. O quadro é considerado um transtorno do controle de impulsos (impulsividade).

Viciado no jogo do trigrinho
FOTO: HUGO BARRETO/ METRÓPOLES

“No contexto social, a vida familiar, profissional e financeira do sujeito é colocada em ‘xeque’, porque tudo passa a girar em torno da necessidade de jogar. Esses jogos se tornaram um problema de saúde pública na Europa. Em hospitais de São Paulo, a ala psiquiátrica tem fila de espera para lidar com pessoas nessa situação”, comenta o especialista.

O médico psiquiatra e sócio do Instituto Nutrindo Ideais Higor Caldato acrescenta: “Os jogos de azar estimulam o sistema de recompensa do cérebro, que está associado principalmente com a dopamina. Com o tempo, o órgão pode se tornar ‘viciado’ nessa sensação, levando a um comportamento compulsivo”, diz.

Sinais de alerta
Não é muito comum ver pessoas inteiradas que os jogos de azar podem viciar ou, nesses casos, não sabem a hora de parar porque acham que é “apenas um jogo de diversão”. No entanto, o problema é, sim, algo a se preocupar. Por isso, a importância de saber os sinais de alerta.

“O fato da pessoa passar cada vez mais tempo jogando, discutir frequentemente com outras pessoas sobre jogo e ficar obcecada esperando jogar novamente são alguns dos indícios. Além disso, pode ter sinais emocionais de maior irritabilidade, insônia e isolamento social”, explica Higor Caldato.

Rodrigo ressalta que a prioridade da vida do indivíduo se torna jogar, já que os pensamentos estão voltados para as apostas, seguido da frustração “ao ver todos os números se transformarem em zero”. É nesse ciclo vicioso que a pessoa se afunda cada vez mais no descontrole.

“Começam as mentiras; atos ilegais, como pegar dinheiro emprestado com agiotas; e fazer empréstimos. O que era estabilidade começa a ruir. Perde-se o dinheiro, a confiança dos outros e, muitas vezes, até em si mesmo por ter consciência que não tem mais controle sobre si. Afinal, na ‘próxima tentativa vai dar certo’”.

A batalha para abandonar o vício
De acordo com Rodrigo, abandonar o vício em jogos de azar pode ser um desafio. Assumir que está sofrendo de um transtorno é uma tarefa difícil. Além disso, o quadro é comparado a um vício químico, logo, a abstinência é um forte problema, assim como a tolerância a medicamentos.

“Na maioria das vezes, além da medicação, acompanhamento psiquiátrico e psicológico, o sujeito necessita de internação para uma possibilidade de desassociação tanto do meio quanto da acessibilidade aos jogos”, afirma o especialista.

Tratamento
Quando se percebe a necessidade de intervenção, recomenda-se procurar ajuda médica para obter um possível diagnóstico e tratamento. O psiquiatra Higor Caldato explica que o tratamento envolve acompanhamento psicológico para auxiliar no entendimento dos sintomas e na supervisão comportamental.

“O apoio de grupos como ‘Jogadores Anônimos’ pode ajudar na troca de vivências e experiências relacionadas a uma comunidade que entende o que a outra está passando. Vale também fazer acompanhamento com um psiquiatra para identificar e tratar quadros associados, como transtornos depressivos, ansiosos e insônia”, pondera.

O ideal é começar o tratamento o quanto antes. De acordo com Bravim, 70% dos jovens superam o transtorno com terapia, enquanto a outra parcela sofre recaídas ou abandonam o tratamento.

“Muitas vezes, medicamentos como paroxetina, naltrexona e bupropiona, entre outros, são necessários junto com o acompanhamento psicológico individualizado. A família entra como parceira indispensável em todo tratamento, tendo um olhar cuidadoso, em vez de inquisidor, durante o processo de recuperação do sujeito.”

Prevenção
Em relação a estratégias de prevenção que podem ser usadas para evitar que pessoas desenvolvam um vício em jogos, Higor diz: “Campanhas educacionais, fiscalização rigorosa sobre a restrição de idade para o acesso aos jogos, estipular limites máximos financeiros para apostas e tempo gasto em jogos”.

Outras táticas incluem incentivar hobbies saudáveis e outras atividades que gerem entretenimento, disponibilizar linhas de apoio 24h que permitam maior acolhimento e orientação, e implementar regulamentações rígidas para operadores de jogos de azar.

Fonte: Metrópoles

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