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Ricardo Pontes: o vendedor de dindim que virou gestor público em Teresina

A história de superação e o exemplo de um alguém que conseguiu vencer na vida com trabalho e esforço e hoje está na Presidência da PIAUÍPREV

José Ricardo Pontes Borges, natural de Teresina, Piauí, é formado em Administração de Empresas, com Pós-Graduação em Administração Pública, pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e MBA em Gestão Empresarial, pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de janeiro (FGV/RJ). Antes disso, trabalhou ainda criança como vendedor de laranjas, dindim e como metalúrgico.

Apesar das dificuldades da origem humilde, ele foi construindo o próprio caminho. É funcionário de carreira na Caixa Econômica Federal, mas obteve destaque com o trabalho como gestor público. Em 2003, chegou ao posto de Superintendente de Gestão Administrativa na Secretaria de Administração e Previdência (SEADPREV).

Em 2011, foi convocado para assumir um cargo nacional da Caixa Econômica, em Brasília. Mas em setembro do mesmo ano foi convidado para trabalhar com o ministro Gilberto Carvalho, na Secretaria Geral da Presidência da República, onde ficou até 2014.

Em janeiro de 2015, novamente a convite de Wellington Dias, assumiu a função de diretor-presidente da Empresa de Gestão de Recursos do Piauí (EMGERPI). Durante sua gestão, geriu e regularizou todas as Carteiras Imobiliárias Habitacional da extinta Companhia de Habitação do Estado do Piauí (Cohab).

Já em 2018, Ricardo Pontes foi empossado como secretário de Estado de Administração e Previdência (SeadPrev) pelo governador Wellington Dias. Até que em 2020, foi convidado para exercer a Presidência da PIAUÍPREV, onde se encontra atualmente, com continuidade no governo de Rafael Fonteles.

Exemplo: Ricardo Pontes quando criança vendia dindim

Jornal Meio Norte: ​​Como o senhor iniciou sua vida profissional?

Ricardo Pontes: Trabalho desde os meus 10 anos de idade. Sempre ajudando minha mãe e irmãos. Vendendo laranjas, dindim, oficina metalúrgica, tudo um pouco para sobreviver. Sempre estudando também! Aos 13 anos, consegui uma vaga de “boy” na Secretaria de Saúde do Estado, através da antiga LBA. Aos 14, já estava na Caixa Econômica Federal, como “office-boy”, ocupação na qual fiquei até os meus 18 anos. Depois fui para o Banco do Brasil, como prestador de serviços, “digitador”, e em 1989, já com 21 anos, via concurso público, retornei para Caixa como empregado, Escriturário Básico. Sou empregado da Caixa até hoje. No estado, com a eleição do Governador Wellington Dias em 2002/2003, fui convidado por ele, para trabalhar na Secretaria de Governo, mas precisamente no seu gabinete como Assessor Especial. De lá para cá, ocupei diversos cargos no estado, de assessor a secretário de Estado. Presidente de empresas a Presidente de Fundação Pública. Ocupações que me orgulham muito, e que contribuíram para a minha formação de gestor público.

O estado deve acolher os mais necessitados e tem o dever de construir soluções para este atendimento. Um país forte e desenvolvido, tem que ter sua população protegida e saudável. Vivendo com dignidade e feliz. A previdência pública, tem que garantir isso.Ricardo Pontes

JMN: A previdência social é um desafio para a gestão em qualquer nível. Qual o cenário do Piauí?

RP: No Piauí, tivemos grandes avanços nos últimos anos. Criamos um órgão técnico, específico para cuidar do Regime Próprio de Previdência do Estado, que é a Fundação Piauí Previdência (PIAUIPREV). Treinamos colaboradores, implantamos sistemas eletrônicos, modernizamos e aprimoramos o atendimento aos segurados e beneficiários. Fizemos uma revisão geral da legislação e implantamos a reforma da previdência, de acordo com a Emenda Constitucional nº 103/2019. Isto tudo, contribuiu para uma melhoria significativa das finanças, reduzindo o déficit financeiro e atuarial, ajudando no equilíbrio fiscal do estado. Lembre-se que em 2019, tínhamos um déficit financeiro anual de R$1,2 bi ao ano, e agora em 2022, fechamos com um déficit de R$360 mil ao ano. As projeções indicavam que chegaríamos a R$1,6 bi de déficit ao ano em 2023. Então tivemos um alívio considerável nestes últimos anos. Mas, a luta é diária e contínua. Temos muito ainda a avançar na busca pelo equilíbrio atuarial do fundo de previdência estadual.

JMN: E do Brasil, em sua avaliação?

RP: A reforma previdenciária advinda com a EC 103 em 2019, resultou em ganhos fiscais para os próximos 10 anos. Adequando a legislação a nova fase etária que estamos passando. Hoje vivemos mais, com mais qualidade de vida, graças a ciência e novas tecnologias. O equilíbrio das contas públicas, principalmente a previdenciária, é um dos grandes problemas a serem enfrentados pelos gestores atuais. A solução passa, pela retomada do crescimento econômico do país. Temos que gerar mais empregos formais, melhorar os salários e, com isto melhorar a arrecadação previdenciária, formando poupança para o futuro. Tudo passa pelo desenvolvimento econômico do Brasil.

JMN: Como o senhor observa as mudanças no IR propostas pelo Governo Lula?

RP: É importante esta correção da tabela do IR. Veja só, a grande massa de contribuintes de imposto de renda, são os trabalhadores formais, com carteira assinada e recolhimento na fonte. E para esta massa de trabalhadores, na forma atual, a tabela do IR gera desigualdades. Quem ganha menos paga mais imposto. Quem ganha mais, que no geral não são os de carteira assinada, contribuem menos. Uma forma de ajustar isto, é corrigindo a tabela do IR. O Presidente Lula prometeu elevar esta isenção do IR para quem ganha até 5 mil reais por mês, até o final do seu governo.

JMN: É possível construir uma previdência pública forte e que ampare os trabalhadores de forma efetiva?

RP: Sim, possível e necessária. O estado deve acolher os mais necessitados e tem o dever de construir soluções para este atendimento. Um país forte e desenvolvido, tem que ter sua população protegida e saudável. Vivendo com dignidade e feliz. A previdência pública, tem que garantir isso. É papel do estado prover um sistema de seguridade social para todos. Mas, repito, para isto temos que ter crescimento econômico, com empregos e salários dignos.

JMN: A reforma previdenciária é necessária em quais aspectos?

RP: Sim. Veja, o mundo todo discute seus sistemas previdenciários. O problema não é só nosso, daqui do Brasil. A França, Itália, Argentina, Chile, enfim, vários países estão com o tema na pauta diária. Todos têm problemas e desequilíbrios. Como disse, estamos vivendo mais. Novas formas de ocupações de trabalho, novas tecnologias, redução da natalidade. Tudo isto, influencia no sistema previdenciário. Por isto, a necessidade de revisão das nossas legislações e adequações a este novo tempo que estamos vivendo. O equilíbrio entre contribuições, na atividade, que garanta o pagamento de benefícios por mais tempo, na inatividade laboral, é uma equação ainda sem solução. Principalmente em países, como o nosso, que tem pouca capacidade de poupança, muitos empregos informais e poucas condições de se fazer uma prevenção financeira individual e mesmo coletiva, visando nossa maturidade.

JMN: Recentemente o senhor participou da transição do governo Bolsonaro para o governo Lula. O que foi mais emblemático neste processo, na sua opinião?

Primeiro, constatar que o Brasil parou. A máquina pública foi dilapidada. Muitos dos avanços conquistados nos últimos governos, foram desconstruídos ou paralisados. Isto em todas as áreas, principalmente em empresas estatais, como o INSS por exemplo. Por outro lado, fico feliz em ver mais de 300 pessoas trabalhando, discutindo e apresentando propostas de reconstrução do Brasil. Nos diversos grupos de trabalhos instalados, tivemos uma riqueza muito grande de ideias e alternativas para um novo Brasil. O governo Lula tem um grande desafio, que é reconstruir o país. Teremos muito trabalho pela frente.

JMN: O que é mais desafiador na gestão pública?

RP: Todos os cargos que ocupei no estado foram desafiadores e gratificantes. Pude contribuir em diversas áreas, ajudando o governador Wellington a organizar a máquina pública estadual, aprendendo bastante e conhecendo pessoas de vários segmentos. Confesso que o maior desafio foi gerir, com pouco ou quase nada de recursos financeiros. Tendo que buscar alternativas para enfrentar os problemas diários e, manter um certo ritmo de crescimento do Estado. Outro grande desafio na gestão pública, é lidar com gestores heterogêneos, de várias origens e segmentos políticos diferentes. Ao mesmo tempo que é um desafio, é também um aprendizado.

Fonte: Meio Norte

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