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‘Virou um pesadelo’, diz esposa de homem que encontrou meteorito de 38 kg na divisa entre Pernambuco e Piauí

Meteorito com 40 kg que caiu no sertão pernambucano custa mais de R$100 mil. É o maior meteorito inteiro que já caiu no Brasil, segundo pesquisadora do Museu Nacional. — Foto: Flávio Filo

Após encontrar o meteorito mais cobiçado de Santa Filomena, cidade do sertão de Pernambuco onde ocorreu uma chuva de meteorito no dia 19 de agosto, o dono do mineral de 38,2 kg conta estar com medo de ser roubado. Além da relevância científica, a pedra pode valer até R$1 milhão e atraiu olhares de caçadores estrangeiros.

“A gente acha uma pedra dessa e o pessoal já pensa que a gente virou milionário. Não é bem assim. A gente está muito tenso”, disse o morador que encontrou o meteorito.

O homem, que não quer se identificar nem mesmo para os vizinhos, conta que tudo começou no dia 28 de agosto. Na data, um representante da família levou a pedra até o posto de combustível da cidade, local que virou ponto de comércio dos minerais, para mostrá-la aos pesquisadores.

Na ocasião, além de curiosos e moradores quererem tirar fotos com a pedra, os caçadores de meteoritos fizeram lances em dinheiro pelo mineral. A repercussão foi tamanha que acabou com o sossego da família.

Segundo os locais, as pedras mais bonitas – cerca de 200 fragmentos choveram em Santa Filomena – foram comercializadas com os caçadores por até R$ 40 o grama, o que faria do meteorito de quase 40 kg ter um valor milionário.

“Teve proposta, mas foi de gente querendo se aproveitar e isso não nos interessa. Não temos pressa em negociar a pedra de forma alguma. A gente não deu preço a essa pedra. Não tivemos negociação com ninguém”, enfatizou a esposa do morador.

Segundo a pessoa que representa a família, os caçadores, entre eles um americano que correu para o Brasil no dia seguinte da chuva, ofereceram “apenas” R$120 mil, um valor muito abaixo. Agora, o representante conta que os donos pretendem vender o meteorito ao Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

“Isso virou um pesadelo. A gente passou uns dias sem comer e dormir. O objeto tem valor e todos têm interesse aqui, não são só os daqui. Se não tivesse valor, ninguém viria atrás, até do exterior”, relata a mulher do homem que encontrou a pedra.

Conforme o G1 mostrou no domingo (31), quem achou os fragmentos da chuva de meteoritos ganhou dinheiro com o comércio das pedras, que estão sendo negociadas com pesquisadores e “caçadores” várias partes do Brasil e de outros países.

‘Deus que mandou’

No momento da chuva dos fragmentos em Santa Filomena, o morador disse que ouviu o estrondo, mas só ficou sabendo do que se tratava depois. Dias após o fenômeno, ele decidiu procurar em sua propriedade se as pedras haviam caído por lá ou na região, na zona rural do município.

“Na quinta-feira (27), um morador me deu informação de onde houve um grande abalo, um estrondo, uma pancada, como se tivesse enfiado algo no chão. Ele me informou uma localização. Comecei as buscas no amanhecer. Quando foi por volta das 8h30 da manhã, consegui localizar a pedra”, conta.

Segundo ele, o fragmento estava enfiado no solo. “Eu retirei e levei até uma estrada aproximadamente 2 km de distância dali, na mão, dentro da Caatinga, até chegar na minha moto. Aí trouxe para a cidade”, relata.

A família que encontrou o maior meteorito do sertão pernambucano conta que a pedra está em um cofre fora da propriedade. Apesar do susto e do medo, eles julgam a pedra como um presente divino.

Meteorito que caiu em Santa Filomena, PE — Foto: Arquivo pessoal

“Eu acredito que foi Deus que mandou pra gente, porque caiu dentro da nossa propriedade. A gente tem que segurar [a pedra] mesmo”, diz a mulher do homem que encontrou a pedra.

Mais de 4 bilhões de anos

O diretor-secretário da Sociedade Brasileira de Geologia e professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fábio Machado, analisou imagens da pedra encontrada pelo morador de Santa Filomena. Para ele, trata-se de um meteorito — só falta saber de que tipo.

“Precisamos de testes para cravar que é do tipo condrito, mas é um meteorito. É uma importante amostra”, afirmou Machado.

Meteorito do tipo condrito é um mineral importante para a ciência porque tem mesma composição química do início do sistema solar, formado há mais de 4,6 bilhões de anos.

“Os condritos são os melhores fragmentos de meteoritos para se estudar a formação do sistema solar porque representam fielmente a composição química no início da formação dos planetas rochosos. Isso quer dizer que as pedras que caíram em Santa Filomena são mais antigas que a própria Terra”, explica Machado.

O professor ainda explica que, antes de entrarem na atmosfera terrestre, os fragmentos que choveram em Santa Filomena eram, provavelmente, uma peça só. Mas o tamanho exato desse meteoro — quando estão no espaço, as pedras são chamadas de meteoro, mas quando caem na Terra passam a ser meteoritos — é difícil de prever.

“Quando o meteoro entra na atmosfera terrestre, ele queima, então se divide em vários fragmentos”, explica Machado.

A Prefeitura de Santa Filomena afirmou que ainda não sabe como proceder nesse caso, já que o município não tem uma legislação própria em caso de meteorito, mas que está recebendo orientações de pesquisadores da região.

Por telefone, o prefeito Cleomatson Vasconcelos afirmou que o município não tem condições financeiras de manter o meteorito por lá.

“A gente não pode criar uma expectativa na população que a gente não possa corresponder”, afirmou o prefeito. Ele disse ainda já entrou em contato com o Ministério de Ciência e Tecnologia e com a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco para ter orientações neste caso.
Santa Filomena tem 14.172 habitantes, segundo o IBGE. Cerca de 3 mil moram no centro, mas a maior parte está na zona rural, onde predominam plantações de feijão e mandioca.

Santa Filomena — Foto: G1

O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, disse em entrevista ao G1 na quarta-feira (2) que o caso pode apoiar uma nova legislação.

“Sabendo que no Brasil existe toda essa insegurança em relação ao tema, que a gente possa utilizar esse caso [de Santa Filomena] como um exercício para que possamos desenvolver mais conhecimento sobre essa [falta] legislação e, quem sabe, propor uma legislação ou algum tipo de regulação a respeito”, afirmou Pontes.

O G1 entrou em contato com a Secretaria de Ciência e Tecnologia para saber se o estado pretende manter um meteorito no município, mas ainda não teve retorno.

Fonte: G1

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